Por que é fundamental preservar a região do Pantanal e do Gran Chaco da América do Sul

A Pew e seus parceiros estão trabalhando para fortalecer as proteções em uma das regiões de maior diversidade ecológica do continente

Por que é fundamental preservar a região do Pantanal e do Gran Chaco da América do Sul
AFP via Getty Images

Visão geral

Na próxima década, as estratégias de preservação desenvolvidas para capacitar a administração das comunidades locais, dos povos indígenas e dos proprietários de terra serão fundamentais para a conservação da região do Pantanal e do Gran Chaco na América do Sul, dois ambientes biologicamente ricos e diversificados — o Pantanal, maior área úmida tropical do mundo,1 e as porções intactas da floresta seca do Gran Chaco — que abrigam milhares de espécies de plantas e animais.2 Abrangendo a Argentina, a Bolívia, o Brasil e o Paraguai, essas áreas também oferecem vários serviços vitais de ecossistema, como armazenamento de carbono, rotas de migração e controle de enchentes que beneficiam as pessoas e a vida selvagem na própria região e a jusante.

Infelizmente, o Gran Chaco sofreu desmatamento considerável pela expansão da agricultura industrial, principalmente com a crescente demanda global por soja.3 O aumento do cultivo de soja nas terras altas ao redor  do Pantanal também degradou nascentes e rios cruciais para o regime de cheias anuais do Pantanal. Muitas espécies de flora e fauna dependem desse ciclo de enchentes e secas, no qual os rios de planície inundam e recuam anualmente e a terra ao redor age como esponja que absorve e depois libera gradualmente a água ao longo do ano.4

Ainda que as florestas secas e de água doce dos biomas do Pantanal e do Gran Chaco cubram uma área imensa, maior do que o estado da Califórnia, elas têm recebido menos atenção internacional do que outras regiões florestais na América do Sul, como a Amazônia e a Patagônia.

A Pew Charitable Trusts está colaborando com governos nacionais e estaduais, organizações parceiras, comunidades locais e povos indígenas na Bolívia e no Brasil para solidificar e expandir a proteção da extraordinária biodiversidade do Pantanal-Gran Chaco, além de promover usos sustentáveis da terra que apoiem os meios de subsistência de quem depende desses ecossistemas.

Mais de 121.000 km² de florestas e ecossistemas associados do Gran Chaco permanecem intactos na Bolívia.5 Combinadas com as regiões no norte do Paraguai e da Argentina, formam uma faixa contínua com mais de 340.000 km² de terras selvagens que resistiram bravamente ao desmatamento.6 Além disso, mais de 170.000 km² do Pantanal ficam no Departamento de Santa Cruz, no leste da Bolívia, e em dois estados no  centro-oeste do Brasil: Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.7

O Pantanal e o Gran Chaco no coração da América do Sul

A região está entre as áreas de maior diversidade ecológica do mundo

As partes intactas do Gran Chaco e as paisagens adjacentes do Pantanal cobrem uma área maior do que a Califórnia — mais de 485.000 km² de terras selvagens com grande importância ecológica na Bacia do Alto Paraguai.

Pantanal
O Pantanal é a maior área úmida tropical do mundo, com mais de 178.000 km² e populações importantes de onças-pintadas, ariranhas, cervosdo- pantanal e araras-azuis.
Aproximadamente 80% do Pantanal está no Brasil, com o restante na Bolívia e no Paraguai. Toda essa área contribui para a subsistência de cerca de 1,5 milhão de pessoas, que dependem das oportunidades econômicas oferecidas pelos setores tradicionais de pecuária, turismo e pesca da região.
Quase um terço da área — uma seção aproximadamente do tamanho da Suíça — foi queimada por incêndios florestais em 2020 em meio a uma seca grave causada pela falta de chuvas e pela diminuição das inundações que fluem de diversos rios sul-americanos para o vasto delta interior.
Gran Chaco
Uma das maiores florestas secas do mundo, o Gran Chaco é a segunda maior ecorregião florestal da América do Sul, depois da Amazônia. Com mais de 1.000.000 km², a área inclui terras intactas e degradadas ou convertidas, sustentando milhares de espécies de animais, como onças, antas e queixadas.
O Gran Chaco se estende pela Argentina, Bolívia, Brasil e Paraguai, sendo que uma parte significativa das áreas mais bem preservadas está localizada na Bolívia. Toda a ecorregião do Gran Chaco abriga cerca de 9 milhões de pessoas. Especialmente nas áreas rurais, grande parte da população é composta por povos indígenas, como os Guarani, Ayoreo, Yshir e Weenhayek.
De 2000 a 2021, a região perdeu mais de 109.000 km² de vegetação nativa devido ao desmatamento para produção agropecuária, o que equivale a uma área quatro vezes maior que o Central Park todos os dias.

Fontes: Walfrido M. Tomas et al., “Agenda de sustentabilidade para o Pantanal: perspectivas sobre uma interface colaborativa para ciência, política e tomada de decisão” (em inglês), 2019; The Nature Conservancy, Pantanal, 18 de março de 2024; World Wildlife Fund, Pantanal, 1º de março de 2024; Elizabeth Claire Alberts, O Pantanal está queimando de novo. Será mais um ano devastador? (em inglês), 16 de setembro de 2021; The Nature Conservancy et al., Avaliação ecorregional do Gran Chaco americano (em espanhol), 2005; The Nature Conservancy, Gran Chaco: como proteger a segunda maior floresta da América do Sul (em inglês), 24 de maio de 2024; MapBiomas [Chaco], Gran Chaco: 22 anos de transformações na cobertura e uso do solo (em espanhol), 2022

Pew na Bolívia e no Brasil

Nos próximos anos, a Pew e seus parceiros ajudarão a conservar os biomas da Bacia do Alto Paraguai e ainda apoiarão a administração contínua dessas terras majestosas e de grande importância ecológica pelos povos indígenas.

A Pew está ajudando seus parceiros na Bolívia e no Brasil a:

  • Garantir e melhorar o gerenciamento de áreas protegidas públicas e privadas, com base nos padrões globais da União Internacional para a Conservação da Natureza, conhecidos como Lista Verde.
  • Designar novas áreas protegidas para preencher lacunas importantes e conectar os habitats.
  • Apoiar a gestão territorial indígena para promover a conservação e o uso sustentável.
  • Promover o desenvolvimento e a aplicação de normas para o gerenciamento sustentável de fazendas pecuaristas.
  • Desenvolver mecanismos de financiamento de longo prazo para garantir a longevidade dessas medidas de conservação.

Notas finais

  1. Infográficos mostram a importância do Pantanal e as principais ameaças ao bioma” (em inglês), World Wildlife Fund, 11 de nov de 2015, https://www.wwf.org.br/?50183/Infographics-show-the-importance-of-the-Pantanal-and-the-main-threats-faced-by-the-biome.
  2. Gran Chaco: como proteger a segunda maior floresta da América do Sul” (em inglês), The Nature Conservancy, acessado em 24 de maio de 2024, https://www.nature.org/en-us/about-us/where-we-work/latin-america/argentina/gran-chaco/.
  3. Nestor I. Gasparri, Héctor R. Grau, and Jorgelina Gutiérrez Angonese, “Conexões entre a soja e o neo-desmatamento tropical: dinâmica de acoplamento e desacoplamento transitório em uma análise multidecadal” (em inglês), Global Environmental Change 23, n.º 6 (2013): 1605-14, https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2013.09.007.
  4. Fernanda Wenzel, Naira Hofmeister e Pedro Papini, “Demanda por soja pressiona o Pantanal, a maior área pantaneira selvagem do Brasil” (em inglês), Mongabay, 23 de junho de 2021, https://news.mongabay.com/2021/06/demand-for-soy-puts-pressure-on-pantanal-brazilslargest-wild-wetland/.
  5. Robert Padilla e David Tecklin, “Ocupação de floresta intacta em proposta de área de conservação prioritária na Bacia do Rio Paraguai” (em espanhol), 2021.
  6. Robert Padilla and David Tecklin, “Ocupação de floresta intacta” (em espanhol).
  7. Walfrido M. Tomas et al., “Agenda de sustentabilidade para o Pantanal: perspectivas sobre uma interface colaborativa para ciência, política e tomada de decisão” (em inglês), Tropical Conservation Science 12 (2019): https://doi.org/10.1177/1940082919872634.